"Se os países da União Europeia (UE) quiserem continuar a ver filmes de James Bond nas suas televisões, vão ter de autorizar explicitamente na legislação nacional a colocação de publicidade indirecta de carros, relógios ou bebidas nos programas de ficção.
Esta obrigação resulta do acordo político a que ontem chegaram os ministros responsáveis pelos serviços audio-visuais dos Vinte e Cinco sobre a renovação da directiva europeia de 1989 "Televisão sem Fronteiras".
Por pressão da Alemanha, que viveu no ano passado um gigantesco escândalo em torno da publicidade abertamente encapotada de um sem número de marcas, os ministros aceitaram proibir, por princípio, a "colocação de produtos" nas obras de ficção. O que significa que os filmes em que os polícias ou os espiões circulam em carros ou usam relógios com as respectivas marcas bem visíveis, como acontece frequentemente nas produções americanas, deixarão de poder ser exibidos.
Numa realidade mais próxima, isso significa que, por exemplo, serão também proibidas cenas como aquela de Maio passado em que a personagem Flor, da novela da SIC Floribella, elogiava a iniciativa da bandeira humana do Banco Espírito Santo.
A decisão prevê no entanto que os Estados-membros podem decidir o contrário, e autorizar explicitamente a colocação de produtos na legislação nacional. Se não o fizerem, avisou Viviane Reding, comissária europeia responsável pelo sector audiovisual e autora da proposta, a Comissão será obrigada a apresentar queixa ao Tribunal Europeu de Justiça contra os países onde seja detectada "a mais pequena utilização" de um produto comercial, ou seja, por exemplo, "se o inspector da polícia conduzir um carro de marca colocado à disposição da produção".
Por uma questão de clareza e eficácia, a comissária teria preferido que a legislação europeia autorizasse a integração de produtos que, segundo afirma, se tornou uma realidade incontornável e uma importante fonte de receitas da indústria audiovisual. Isto, defendia Bruxelas, desde que os telespectadores fossem devidamente informados no início de cada exibição.
A colocação de produtos será, no entanto, sempre proibida nos programas infantis e de informação.
O acordo político dos ministros terá de ser validado pelo Parlamento Europeu, co-legislador com os governos europeus na matéria, e que se pronunciará sobre a proposta em Dezembro.
Se vier a ser aceite tal como foi ontem definida, a nova legislação introduzirá alguma flexibilidade na actuais regras para a publicidade, embora com a salvaguarda de que a UE não terá "televisões à americana" com interrupções a torto e a direito dos programas.
Do mesmo modo, as novas regras clarificam o "princípio do país de origem", destinado a concretizar a livre prestação de serviços no mercado interno ao permitir a uma estação de televisão legalmente instalada num Estado-membro emitir para todos os outros sem ter que se conformar com a legislação dos receptores.
Este princípio do país de origem passará a aplicar-se igualmente aos serviços audiovisuais "não lineares" (a pedido do telespectador, em oposição aos serviços "lineares", de conteúdo pré-determinado), embora este segmento fique submetido a princípios simplificados destinados a proteger os menores ou a prevenir a incitação ao racismo."
in PÚBLICO online, pela jornalista Isabel Arriaga e Cunha.
Isto apesar de ter forma de ser contornado é de alguma forma desconcertante! O título da repotagem é "James Bond pode ser banido de algumas televisões europeias", o que pode ser bem verdade, mas pensem só na panóplia de filmes que também serão banidos?!
2 comentários:
Muito interessante esta reportagem! Nunca tinha pensado nisto nem nunca me ocorreu tal hipótese. Contudo já vi vários filmes que apelam mesmo muito à publicidade. Estou a lembrar-me de "Josie and the Pussycats". Eu sei que o filme que referi não é grande coisa, mas tinha uma quantidade gigantesca de publicidade, o que, apesar do triste e fraco argumento, até fazia sentido no contexto, pois o filme tinha como base a lavagem ao cérebro de adolescentes. Ás vezes há certas marcas que já são banais no quotidiano e nem ligamos... Estou a lembrar-me agora, por exemplo, do macdonals, coca-cola, Barbie... enfim... são marcas que deram o nome aos abjectos a que se referem...
Não sei até que ponto uma legislação destas é útil... Não previne a lavagem cerebral nem educa as pessoas para a combaterem, mas é um começo... Contudo, receio a quantidade de filmes que não virão para a TV:/:/
Realmente, mas como a reportagem o diz, basta que sejam criadas leis para contornar o sistema. O que eu não duvido que seja uma nova forma de movimentar dinheiro. Há filmes que realmente não fazem sentido sem as marcas. Por exemplo O Diabo Veste Prada, imaginem a quantidade de marcas que são nomeadas neste filme! As séries de TV! a comida, os carros... Enfim... Imaginem um filme em New York (ou qualquer outra cidade norte americana) com uma cena na rua em que os actores não andem com um copo de café Starbucks na mão! Há filmes, e séries que não fazem sentido sem as marcas, principalmente aquelas que se querem manter fieís a um certo e determinado tipo de público.
Mas tudo será solucionado! (I hope)
Obrigado pelo teu comentário!:)
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