sábado, março 08, 2008

Maldoror dos Mão Morta

E é em poucas palavras que o Maldoror foi bom! E é em poucas palavras que o Maldoror foi bom nos seus primeiros anos! E é em poucas palavras que o Maldoror foi bom nos seus primeiros anos em que viveu feliz!

Preparem-se para serem surpreendidos, deixem que Maldoror pegue em vós, vos atire contra uma parede. Pois não se vão importar nada com o impacto...

Pedofilia, zoofilia, homossexualidade, sadomasoquismo, os crimes eróticos, palavras saídas de uma mente no limiar da insanidade condensam os textos declamados por Adolfo Luxúria Canibal em Maldoror. Sintetizado temos a palavra PREVERSÃO. Sem recorrer a palavras curtas, temos visões díspares de insanidade.
Num “concerto ensaiado” (como me foi definido), Maldoror traz-nos os textos do uruguaio Isidore Ducasse (de quem Lautreamónt é o alter ego), traduzidos e adaptados por uma das melhores mentes da escrita macabra, sombria, sem pudor, da literatura nacional. Actualmente Adolfo Luxúria Canibal reside em Paris, daí poderemos encontrar várias conotações à cidade na adaptação por ele feita.
Bradar palavras de temas sensíveis não é para todos, uma selecção e estudo cuidadoso das palavras de forma que os textos sejam poéticos e estilizados e o vocábulo duro seja mais facilmente digerido.
Tendo na sua maioria do texto uma conotação directa com a infância, o palco visa recriar um quarto de brinquedos, com bonecos desconformes (cabendo aos restantes membros dos Mão Morta se vestirem a preceito). Um quarto de brinquedos onde entra uma criatura que quer brincar com a criança de outra forma… A criatura tanto era lasciva, como animalesca, agressiva. Canibal interpretava todos, cambiava de personagem com a simples mutação da cor das candeias.
A degradação humana, tema sensível para uma sociedade que se julga num auge da perfeição, clama para que cada um se perceba da sua própria condição. Que a admita, que se levante e lute contra ela.

"Pois bem, que assim seja! Que minha guerra contra o homem se eternize, já que cada um de nós reconhece no outro sua própria degradação... já que somos ambos inimigos mortais. Quer deva eu conseguir uma vitória desastrosa ou sucumbir, o combate será belo; eu, sozinho contra a humanidade".

Uma alienação de situações desenvolvem-se ao som dos Mão Morta, não é só o texto de Canibal que nos faz sentir ali, que nos abre. Os músicos que completam o “concerto ensaiado” trazem o resto do movimento à letra. Estava sempre com vontade de os ver saltar num solo, de se mexerem mais!! Assim como me apercebi que havia mais gente a querer saltar. Mas o principal ali era a declamação, por instantes deixava a mente vaguear até ao som do baixo, do cello, da guitarra. E depois um salto de volta à figura principal. Acreditem que é difícil! Mas vale a pena. Vale sempre a pena um texto de Adolfo Luxúria Canibal, ainda mais quando as palavras brotam-lhe da boca com uma despretensão assustadora.

O disco, acompanhado de um pequeno livro forrado a tecido ilustrado por desenhos da artista plástica Isabel Lhano, é duplo, de edição limitada a três mil exemplares contendo excertos de textos dos "Cantos de Maldoror", e só se encontra disponível nos teatros por onde a tournée vai passar. (Doh!!! Só agora é que soube disto… F***).

Vejam aqui um pequeno “trailer” sobre a peça, e depois vão ver a peça!!

A tournée vai passar pelas seguintes cidades nas próximas semanas:
13 de Março - Teatro José Lúcio da Silva - Leiria - 21h30
05 de Abril - Teatro das Figuras - Faro - 21h30
12 de Abril - Cine-Teatro - Estarreja - 22h00
23 de Abril - Grande Auditório da Culturgest - Lisboa - 21h30
03 de Maio - Theatro Circo - Braga - 22h00


Imagem de Adolfo Luxúria Canibal via www.janelaamarela.blogspot.com.

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