Ando a adiar escrever alguma coisa sobre este concerto com a esperança que à medida que os dias fossem passando, as minhas ideias fossem ficando mais coerentes. A conclusão a que chego é que não adianta. Já não assistia a um concerto com a magnitude deste há algum tempo. A expectativa era alguma, tinha uma certa curiosidade em saber como é que o menino de Leira iria fazer aquele que ele apelidou de O concerto. Dia 12 de Abril foi o escolhido, e eu abdiquei de comer uma banana, empilhar lenha, jogar à bola, andar de baloiço, conduzir, blogar, e até de olhar para o céu vazio. Renunciei disto tudo para me ir juntar ao David Fonseca na sua estreia no Coliseu, no concerto que encerrou a tournée. Num recinto a abarrotar de fãs, recebemos Rita SapatosVermelhos que nos abriu o apetite e a ansiedade para saber o que é que se escondia por trás das cortinas pretas que ocultavam o grande palco. Depois de RedShoes abandonar o palco, fomos deixados à espera, até que… Um mini filme protagonizado por Fonseca, autobiográfico, que nos explica as motivações. Estes vídeos tornaram-se recorrentes, nada aborrecidos, e tão bem colocados que não quebravam o andamento do concerto. A entrada em palco de um quarteto de mariachis seguida, daquilo que provocou uma onda de exaltação no público com 4th Chance, foi o arranque daquilo que depressa se tornou num dos melhores concertos que já tive o prazer de ver (Tool continua cá dentro, sorry).
Os pontos altos… Que absurdo, não consigo nomear pontos altos! Simplesmente não os consigo distinguir! O momento em que uma dezena de gambiarras desceu sobre o público e David entoou Song To The Siren, de Tim Buckley? Sim. Fonseca a girar numa plataforma giratória com um megafone ( que com muita pena nossa não estava a funcionar correctamente e não se ouviu a distorção da voz do cantor) na Silent Void? Sem dúvida. A Raging Light que levou o público ao auge, com um palco cheio de bailarinos saídos dos anos 70, rodeados de bolas de espelho? Também. Video Killed The Radio Star e The 80’s intersectados? Definitivamente! O dueto com a Rita em Hold Still levou o público a levantar os braços numa onda de ternura, enquanto nas telas que rodeavam o palco passavam imagens londrinas? Need I say more?
As conversas que David manteve com público também eram bem cómicas, vocês sabiam que ele já tinha tentado a profissão de agente secreto? Só não a continuou porque era uma profissão perigosa, e ele era sempre o primeiro a fugir… Cada vez que se dizia agente secreto os músicos começavam a tocar o tema dos Blues Brothers. David também explicou que fica impressionado quando o público masculino lhe pede que lhe faça um filho. É que mesmo que ele queira muito, e com muita força (palavras dele e não minhas) que não é possível. Um medley de hits radiofónicos vistos de uma forma completamente diferente, de uma forma sensível, com ternura… Imaginem a “Wannabe” das Spice Girls, “Toxic” de Britney Spears, “Maneater” de Nelly Furtado, “Can't Get You Out of My Head” de Kylie Minogue e “Umbrella» de Rihanna, numa visão do David, em que as músicas falam de infernos em fim, de relações tortuosas e muito mais. Hilariante, adianto já. E digo adianto porque o concerto foi filmado e será editado em DVD, onde eu vou poder rever, e muitos de vocês ver pela primeira vez o sonho do David. Sim, porque foi em jeito de sonho que a noite acabou, com o vocalista deitado de pijama vestido num cama que foi empurrada até ao centro do palco, no meio de duas ondas de bolas de sabão que caíam dos camarotes de cada lado, “Coliseu, chegou a minha hora”. Aí ouvimos a Dreams in Colour, e vimos o sonho projectado nas telas. Pouco depois, entravam em palco as personagens deste mesmo sonho. “Bem-vindos ao meu sonho!”. Um motoqueiro, imperador romano, mágica, pato, bávaro e o Comandante David. Fecham a noite com Together In Electric Dream misturada com “A Little Respect” dos Silence 4, e uma chuva de corações de papel vermelhos sobre os fãs, já com as pernas a cederem do cansaço de quase 3hrs de concerto, que se recusavam a arredar pé nas muitas ameaças de término que haviam existido. Fossem músicas de David Fonseca ou de Silence Four, já não nos importávamos, queríamos mais!
Foi assim, com bolas de espelhos, lanternas, megafones, bolas de sabão, corações de papel, e muito sonho, que me vou recordar da noite de 12 de Abril. E certamente que o David Fonseca também, pois passou a noite com um sorriso nos lábios e com uma presença em palco como há muito não vejo.
Agora vou comer uma banana, andar de baloiço, e talvez vá olhar para o céu vazio se parar de chover.
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